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sábado, 28 de março de 2009

Reforma ortopédica

Ví num blog e gostei...

Este negócio de reforma ortopédica, me deixou preocupado. Não é brincadeira não. Ortopédica mesmo. Não errei.
Ontem estava pensando com meus cordões e fiquei contente por havermos escapado desta.
Sim! Pensando com meus cordões, antigamente pensávamos com nossos botões, mas isto agora é passado.
Neste mundo de moletons os botões sumiram, quem é que acha um botão nas roupas?
Estava matutando sobre a nova ortografia, não creio que ela causará tantos problemas assim. Afinal acentuação não é o forte de muita gente mesmo.
Assisti a um vídeo da www.charge.com.br onde o aluno está tomando uma bronca de sua professora particular por suas desatenções em dois anos de aula e dizendo que agora, o que ela não havia aprendido em todo este período teria que ser reformulado, que pelas novas regas idéia, vôo, e lingüiça não teriam mais acento e o garoto responde cheio de razão:
-Viu! Eu que estava certo o tempo todo, quem que sempre escreveu deste jeito? Eu ou a senhora? Eu tenho as correção tudo aqui, com a sua letra. Chupa he he tomô.
Considerando-se que o garoto pronunciava corretamente as palavras (ninguém falou em concordância ou conjugação verbal) chega-se à conclusão que ele tinha seus conhecimentos de português mais ou menos da mesma forma que alguns músicos que até vivem da profissão, ou seja, "de ouvido", se lhe derem uma nota pra ler, não sai nada.
Então realmente aprendendo-se português "de ouvido" pouca coisa vai mudar, mas este negócio de aprender de ouvido é bom para quem passou a vida aqui, para um estudante de português, estrangeiro, a coisa é mais complicada.
Não seria nenhuma surpresa ouvirmos um estrangeiro falando:
-Estes membros da "assemblêia" têm cada "idêia", boas apenas para eles, em nada beneficia o povo. - pronunciando as palavras assembléia e idéia com o som de aldeia.
Não poderíamos realmente dizer que o estrangeiro está errado nem que é sotaque, as informações ortográficas dadas a ele não o obrigam a abrir o ditongo.
Aí. Nós brasileiros que adoramos nos divertir à custa da ignorância do próximo vamos, como se diz: "rachar o bico" com a burrice do gringo.
Que burrice? Ele não cometeu erro nenhum, pronunciou a palavra baseado nas regras que lhe foram ensinadas e que ele aprendeu muito bem.
Não que algumas vezes deixaremos de ouvir brasileiros mesmo falando estas besteiras. Mas ai não vamos rir. Vamos ficar com dó do "pobrezinho" vitima da sociedade e compreender.
Lembro-me com uma clareza tal que me parece ter acontecido ontem de uma oportunidade em que eu estava sentado na calçada do Joka`s tomando um chopinho e um amigo meu ocupou um lugar na minha mesa e olhando minhas coisas perguntou:
-Posso pegar um "traident".
-À vontade, - respondi. - como estão as coisas?
-Bem, abri uma loja e as coisas estão correndo muito bem mesmo.
-Legal, e o que vende?
Ele fechou as mãos sobre a camiseta que estava usando e depois as abriu devagar descobrindo a marca.
-Você abriu uma loja da "Traiton" tenho visto muita propaganda deles. - falei com ênfase, para deixá-lo contente.
-Não é Traiton. - corrigiu ele aborrecido. - É Triton.
-Pronuncia-se Triton? - perguntei.
-Sim, a marca é brasileira.
-Mas a propaganda deles é use triton and smile? - Mostrei página da revista onde a mesma existia.
-E daí? - respondeu ele. - Você precisa se atualizar.
Trident, "Traident", Triton, Triton, não importa mais agora que sei, mas no dia eu "paguei um pato". Falei como quem aprende de ouvido e me dei mal.
Mas nos próximos anos vamos rir muito dos nossos amigos estrangeiros que vão falar errado por causa da falta de informação de ouvido, eles não as têm. Então não entendo como tais mudanças vão beneficiar a universalização da língua, inclusive no que se refere ao trema.
Sou interrompido em minhas conjecturas, nada como uma esposa gentil e dedicada.
-Benzinho, me desculpe não ter ido comprar cigarros pra você, mas você sabe! Estacionar no supermercado é uma loucura.
-Não se preocupe. Amanhã cedo eu compro. - respondi.
-Mas pra você não ficar chateado eu lhe trouxe um cafezinho fresquinho.
Um cafezinho fresco numa hora destas é um rude golpe para qualquer fumante inveterado. A boca encheu de água.
-Muito obrigado. - respondo com a boca cheia de nicotina. - Onde estão as chaves do carro?
Ela notou meu olhar de desaprovação e perguntou:
-Não gostou do café?
-Adorei amor, - respondi como ar até sincero. - só quero dar uma saidinha. Este negócio de ficar pensando na reforma ortográfica do governo deixou minha cabeça um pouco confusa.
-Fique feliz por não terem feito a reforma ortopédica. - observou ela com ar de aliviada.
-Não entendi. O que aconteceria com a reforma ortopédica?
-Pense! - respondeu ela - O presidente não sabe acentuar e cortou os acentos.
-E daí?
-Se fizesse uma reforma ortopédica todos nós teríamos que cortar um dedo.

-Coloque um casaco e vamos passear um pouco, você agora mereceu. Você escolhe o lugar - respondi feliz por termos escapado desta.
Pois é!!!!!!!!
Érica Oliveira

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